quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Samurai das Sombras. (Parte 6)


    O coração de Maru batia forte, pressentindo que algo grandioso estava para acontecer.
   Bem ao fundo do templo Simunai, Iana revela uma passagem oculta para um salão secreto, conhecido como Salão Sagrado, dado o próprio nome da espada guardada em seu interior.
    - É por aqui, Maru. Entre e te mostrarei a espada que guardamos.
   Iana estava certa da pureza do samurai. Utilizando de sua percepção espiritual apurada, ela pôde perceber as boas intenções de Maru e notou sutilmente que era importante o encontro entre o samurai e a Espada Sagrada.
    - Aqui está ela. Agora só preciso retirar este tecido que a recobre... Pronto!
    Maru parece petrificado por uns instantes ao ver o tamanho da espada.
    - Ela não foi feita para ser empunhada, não é Iana? Ela é muito grande e parece muito pesada.
    O samurai analisa a espada, olhando seus minuciosos detalhes, reparando em uma escrita quase escondida no cabo. É uma língua antiga já não utilizada mais.
    - O que está escrito aqui, Iana? Você conhece essa língua?
    Ela olha com espanto...
    - Eu confesso que nunca tinha reparado esta escrita. Deixe-me ver!
    Iana conhecia muito bem aquela língua utilizada na espada.
    - Aqui diz:

    “Abra seu coração e da sombra removerei o mal interior, renovando seu espírito.”

    - O que isso quer dizer?
    - Eu não sei, Maru. Mas você vai descobrir. Eu posso sentir.
    Por um momento, Maru analisa novamente a Espada Sagrada em seus detalhes, buscando entender o que significavam aquelas palavras encravadas no cabo.
    - Aqui, veja Iana! Tem um coração desenhado aqui na base do cabo da espada. A frase não mencionava a palavra coração?
    Maru, ainda tentando entender se havia alguma ligação entre aquele coração, aperta-o, surpreendendo-se por ele ter se movido, como um botão.
    Neste momento um feixe de luz sai pela lâmina da Espada Sagada e ela se abre, revelando em seu interior uma espécie de molde.
    O coração de Iana dispara ao perceber do que se tratava o molde.
    - Maru. Acho que decifrei o enigma. Olhe bem para esta concavidade. Parece um molde para outra espada. Abrimos o coração da Espada Sagrada. “... e da sombra removerei o mal interior...”. Pegue a Espada das Sombras!
    Maru pega sua espada e a coloca dentro da Espada Sagrada, encaixando-a perfeitamente e fechando-a dentro da outra espada.
    Neste momento uma fumaça negra começa a sair. Iana dá dois passos para trás, vendo o que Maru provavelmente não podia ver. Almas negras e gasosas saiam da espada e eram sugadas para o chão com extrema violência, como se estivessem sendo mandadas para o inferno por uma força muito poderosa.
    Um a um, os espíritos foram sendo sugados até que finalmente o processo terminou. A Espada Sagrada se abriu, revelando a Espada das Sombras com um novo e interessante detalhe. Um símbolo gravado na base da lâmina.
    Maru acompanhou tudo de forma estática. Ele não podia acreditar no que estava presenciando. Ainda sem entender ao certo quais foram as consequências, ele retira sua espada.
    - Não posso acreditar. Minha espada está muito mais leve que de costume. E o que seria este símbolo? Você saberia me dizer, Iana?
    - Deixe-me ver... Este símbolo significa “de plena pureza”. Creio que sua espada agora esteja livre dos espíritos por ela aprisionados e por isso considerada como pura.
    - Parece bom! Preciso analisar melhor estas mudanças... (continua...)

sábado, 4 de agosto de 2012

O Samurai das Sombras. (Parte 5)




    Com muito cuidado, Iana começa a mergulhar Maru no lago quente. Aos poucos, o sangue em sua pele vai sendo levado pelas águas... Após um tempo, Maru acorda limpo e revigorado.
    - Já acordou? Como você está?
    - Sinto-me muito melhor. Muito obrigado pela sua ajuda. Eu confesso que não esperava que o ritual fosse chegar ao ponto que chegou.
    - Eu tive medo de que você não conseguisse se recuperar, mas vejo que agora você está muito bem.
    - Sim, estou. Após concluído o ritual, eu retomo minhas forças. Retorno mais forte, assim como minha espada. Onde está a minha espada?
    - Sua espada está bem aqui.
    Iana entregou a Espada das Sombras a Maru que a recebeu com um sorriso nos lábios, tendo a certeza de que tudo estava bem agora.
    - Sabe, Iana, esta não é uma arma de guerra. É uma espada muito perigosa e exige muito cuidado. Se eu tivesse demorado um pouco mais, talvez não tivesse conseguido concluir o ritual.
    - Entendo. Mas está tudo bem agora, não é mesmo? Há quanto tempo você a carrega?
    - Esta espada é passada de geração a geração. Mas eu nunca havia me sentido preparado para empunhá-la, até que...
    Maru fecha os olhos e baixa a cabeça, levando as mãos ao seu rosto, demonstrando grande pesar pela lembrança.
   - Recebi a Espada das Sombras após minha esposa ter sido morta. O ódio que senti me permitiu ter forças e ver em mim alguém capaz de carregá-la. Havia outros samurais, mas pereceram em uma terrível batalha e meu avô foi o único que sobreviveu. Foi ele quem passou a espada para mim, ao perceber que o momento certo havia chegado. Poucos dias depois, ele faleceu. Meu pai morreu nesta batalha. Minha mãe... eu não cheguei a conhecê-la, pois ela partiu deste mundo ao me dar a luz.
    - Eu sinto muito. Lamento muito pelo que ocorreu. Sou muito grata por você ter estado aqui para proteger o templo.
    - Não se lamente. Todos devemos enfrentar nosso destino. Caso contrário, seremos derrotados por ele. Quanto a minha ajuda, eu não poderia ter feito diferente, Iana. Fiz o que tive que fazer. Há quanto tempo você está aqui neste templo?
    - Desde que me lembro. Eu não conheci meus pais. Fui abandonada nas portas deste templo e criada pelos sacerdotes. Eles me acolheram e me ensinaram tudo o que sei.
    - Onde estão estes sacerdotes?
    - Eles estão no templo da cidade vizinha, reunindo-se com os sacerdotes de lá. Eles voltam em 3 dias.
    - Entendo, Iana. Você poderia me contar sobre a Espada Sagrada?
    - Mais do que isso. Vou te levar até ela e também te contar tudo o que sei sobre esta espada. (continua...)

terça-feira, 24 de julho de 2012

O Samurai das Sombras. (Parte 4)



    (Parte 1. Parte 2. Parte 3)

    Enquanto o ritual acontecia, Iana despia-se para seu banho noturno. Ela retirava suas vestes uma a uma com muita delicadeza, deixando mostrar somente ao seu próprio olhar seu belo corpo e sua pele branca e macia. Iana é uma jovem muito bonita, dotada de proporções corporais invejáveis, mas não tem essa percepção de si mesma por ter pouco contato com o mundo externo e com as pessoas que frequentam o templo, mesmo porque estas pessoas vem ao templo para meditar. Suas vestes de sacerdotisa também ofuscam suas doces curvas aos olhares alheios.
    Seus seios eram de tamanho médio a grande, com aréolas rosadas e bicos que certamente fariam muitos homens salivar. A cintura afinada fazia um delicioso contraste com o quadril mais largo. Em suas costas na região lombar, podia-se notar duas delicadas depressões popularmente conhecidas como "covinhas", que anunciavam a beleza que estava abaixo delas. Seus glúteos eram bem arredondados, com um tom de pele tão clara quanto o restante de seu corpo, e pequeninos e quase imperceptíveis pelinhos pareciam se esticar na pele arrepiada causada pela sensação térmica mais fria.
    Com a ponta dos dedos, Iana verifica a temperatura da água corrente termal que forma um pequeno lago utilizado para limpeza do corpo e purificação da alma. Totalmente desnuda, começa a entrar na água morna, passo por passo, indo onde é mais fundo. Com o corpo quase todo coberto, ela aproveita para colocar sua cabeça dentro das águas quentes, prendendo a respiração, fechando os olhos, deixando-se levar. Desta maneira, ela pode contemplar o som que a corrente térmica faz ao atravessar o templo, sentindo-se integrada ao Todo.
    Iana passa suas mãos suavemente por todo o seu corpo, deixando para trás as energias ruins acumuladas por um dia tão conturbado. Ela deixa-se acariciar por uns instantes enquanto passa seus dedos por entre suas pernas, subindo até seu ventre e descendo para as coxas, repetindo estes movimentos de forma cadenciada, permitindo-se sentir por uns instantes algumas estranhas sensações que a faziam contrair levemente seu abdômen e também por vezes a deixavam ofegante. Por fim, ela relaxava em um silêncio profundo, sentindo-se extremamente calma.
    Limpa e espiritualmente purificada, saindo da água, Iana se deita deixando seu corpo secar naturalmente, depois coloca roupas limpas e arruma seus longos cabelos castanhos.
    Passado um tempo, ela começa a se preocupar com a demora de Maru e resolve verificar se está tudo bem. Chegando no salão espiritual, para sua surpresa, ela encontra o samurai estendido no chão, banhado de sangue pelo corpo todo. Iana vai até seu encontro, imaginando o pior, quando, então, percebe Maru respirando, mas com dificuldade. Maru abre os olhos com muito esforço.
    - Iana... eu consegui... mas vou precisar de sua ajuda... Por favor... pegue minha espada... coloque-a naquela fonte... deixe a água correr... até que fique limpa...
    - E este sangue todo?
    - Não se preocupe... eu não estou ferido... por favor... a espada precisa... ser...
    Então Maru desmaiou novamente.
    Devido à sua sensibilidade espiritual, Iana fica com um grande receio de tocar na espada, mas não vê outra saída. Ela pega a espada e a coloca na água corrente da fonte do salão espiritual, observando o líquido negro lentamente deixar a espada.
    Tocando a espada, Iana pode ver ao mesmo tempo e de forma instantânea cada alma aprisionada e o motivo pelo qual estão trancafiadas, o que a deixou tão assustada quanto certa da integridade moral daqueles que carregaram a espada.
    Apesar de ter feito o que fez, eu não sabia que ele era tão frágil - pensou a jovem. Preciso cuidar dele. Eu devo isso, afinal, se ele não estivesse aqui... não quero nem pensar no que poderia ter acontecido...
    Com dificuldade, Iana arrasta Maru até a beira do lago quente de onde saíra há algum tempo. (continua...)

Parte 5

domingo, 22 de julho de 2012

O Samurai das Sombras. (Parte 3)


    (Parte 1. Parte 2)

    Maru ajuda Iana a se levantar.
    - Você está bem?
    - Agora estou, obrigada. Muito obrigada por me ajudar com aqueles três. O seu nome é Maru, não é?
    - Isso mesmo. Maru, o último Samurai das Sombras. E você quem é?
    - Eu me chamo Iana. Sou a sacerdotisa responsável por este templo. Como uma sacerdotisa, pude notar que a alma daquele sujeito que você matou está em posse da sua espada.
    - É verdade. Interessante você ter notado isso. Por eu ter matado aquele homem, preciso fazer um ritual de purificação para que aquela alma silencie dentro da espada e não seja uma ameaça. O ritual precisa ser feito o quanto antes.
    - Eu compreendo.
    - Você me permite fazê-lo aqui dentro do templo?
    - Normalmente ninguém deve ficar no templo após o pôr do sol, mas entendo seus motivos. Ajude-me a fechar as portas, então teremos tranquilidade para o ritual.
    As portas do templo Simunai são fechadas e trancadas. Tochas são acesas para iluminar o ambiente. Este local antigo e sagrado é perfeito para o ritual, pois possui boas energias deixadas pelas meditações e pelos espíritos antigos que ali habitam.
    - Iana, eu só matei porque olhei dentro da alma daquele homem e percebi a maldade em suas intenções e percebi o perigo que seria se a Espada Sagrada fosse levada daqui. Depois quero que me conte mais sobre esta espada.
    - Eu compreendo e sou muito grata. Venha por aqui. Vou te levar até o salão espiritual onde poderá fazer a purificação. Após isso, conto sobre a Espada Sagrada.
    Iana leva o samurai até o salão espiritual onde pode-se ver muitas placas entalhadas em madeira com nomes de antigos mestres do templo. Ao fundo, um altar com uma fonte de água corrente.
    - Maru, imagino que você precise ficar sozinho neste momento, então vou te deixar aqui. Quando terminar, pode me procurar pelo templo.
    Maru vê Iana deixando o salão e apanha a Espada das Sombras, olhando-a fixamente. Calmamente retira a parte superior de suas vestes e vai até o altar. Senta-se segurando a espada desembanhada em seu colo. Inicia-se a meditação.

Que esta alma errante entenda e aceite seu destino, pois aquele que busca as trevas um dia a encontrará em si mesmo e, em sua própria escuridão, perecerá.

    Neste momento, Maru começa a ficar coberto por seu próprio sangue que sai pelos seus poros, como suór. Lágrimas negras encharcam seus olhos. O samurai inclina sua cabeça, deixando as lágrimas caírem na espada. Aos poucos a espada vai sendo coberta pelo líquido escuro...
    Maru desmaia exausto, deixando seu corpo cair ao chão. (continua...)

Parte 4

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O Samurai das Sombras. (Parte 2)


    (Parte 1)

  Iana junta forças para tentar se levantar. Não estava entendendo o que queriam aqueles três estranhos homens que invadiram o templo com tamanha brutalidade.
    Uma das figuras sinistras vira-se em direção a Iana:
    - Onde está a Espada Sagrada? Onde está??? 
  Maru, percebendo a situação, abriu lentamente os olhos, voltando-os para a porta. Com calma desembanhou sua espada negra e com um movimento de velocidade fantástica posicionou a ponta afiada no meio da garganta do invasor e disse:
  - Serve essa?
    Muito impressionados, os três tomam um susto, estalando os olhos, pois sabiam de quem se tratava.
    - Vo... você é o Samurai... o Samurai das Sombras? O que faz aqui?
    - Sou eu mesmo. Aqui a única espada que vocês irão ver é a minha Espada das Sombras.
    Em um gesto corajoso, o mais forte dos três, que estava mais atrás, dá um passo à frente, urrando:
    - Eu não vou sair daqui sem a Esp...
    Num movimento silencioso e preciso, Maru arranca-lhe a cabeça com um golpe de sua espada, calando-lhe imediatamente. O sangue é despejado no chão enquanto o corpo cai e a cabeça rola, parando aos pés do terceiro elemento que olha para baixo apavorado. 
    Iana é a única que percebe a alma deixando aquele corpo decapitado. Ela vê uma fumaça luminosa branca elevando-se no ar e entrando na espada de Maru. Neste momento ela percebe que a Espada das Sombras aprisiona a alma daquele que é morto por sua lâmina vermelha.
    Maru, volta-se para os outros dois invasores:
    - Algum dos dois ainda quer alguma espada por aqui?
    - …
    - ...
    - Saiam daqui e não voltem. Se voltarem, serão mortos.
    Os dois saíram correndo sem olhar para trás.
    Maru nunca ouviu falar da Espada Sagrada e fica pensativo. Ele guarda sua espada e estende a mão para Iana, ajudando-a a se levantar.
    O que Iana ainda não sabia era que a cada alma aprisionada, a Espada das Sombras se tornava mais forte, porém mais perigosa para quem a carrega, pois um espírito recém aprisionado luta para se livrar do confinamento. Maru sabia exatamente o que tinha que fazer agora. (continua...)

Parte 3

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O Samurai das Sombras. (Parte 1)



  Maru é o último samurai das sombras. Ele é um guerreiro muito popular e altamente respeitado. Após uma cansativa viagem, Maru chega numa cidade chamada Kamitsu. Logo encontra o rio Tsun que corta a cidade e aproveita para descansar ao pé de uma cerejeira carregada de flores.
    Senta-se no chão, fecha os olhos e medita. Seus cabelos negros e compridos balançam com o vento enquanto o som das águas toma sua mente.
  A profunda paz do momento lhe fez lembrar uma antiga técnica. Inspirado pela tranquilidade, apanhou sua espada, e, abrindo seus olhos, levantou-se com o vigor de um guerreiro e logo veio em sua mente todos os movimentos dos golpes do silêncio. Por um instante, Maru olha para as flores da cerejeira ainda presas à árvore e, com um chute forte, acerta o tronco, fazendo cair diversas flores. Com sua espada negra e fosca, que parecia ter uma estranha lâmina vermelha, ele cortava o vento em movimentos leves e precisos sem fazer som algum, dilacerando ao meio as flores que pairavam no ar, uma a uma, antes que tocassem o chão. Rapidamente todas as flores iam sendo cortadas sem que se pudesse ouvir um só barulho em seus movimentos.
  Enquanto isso, em frente ao lago, podia-se ver um santuário, o templo Simunai. Já estava começando a anoitecer e Maru precisava de um lugar para passar a noite.
Ele guardou sua espada e se dirigiu ao santuário para meditar antes de procurar um local para ficar. Não havia mais ninguém lá. Somente o silêncio preenchia o ambiente.
  Iana é uma sacerdotisa que cuida desse tempo, o templo Simunai. Como a noite ia chegando, ela precisava fechar o templo. Vendo que havia alguém meditando, Iana caminhou com cuidado em direção a porta para encostá-la.
  Do lado de fora, três homens se aproximam da entrada do templo, entreolhando-se. Parecem ansiosos por algo. Iana, percebendo este estranho movimento, tentou fechar as portas, mas foi impedida por uma força brutal que fez a porta abrir e bater com violência, jogando Iana contra o chão de pedra.
Iana quase desacordada, observa os três homens entrarem, sem nada poder fazer. (continua...)

Parte 2